Ao longo do tempo, fomos nos acostumando com o uso destas palavras, de forma muito natural. Há sempre aquela curiosidade de saber como era o antes e o depois, após algum acontecimento importante. Por exemplo, o antes e o depois daquela cirurgia estética; o antes e o depois da mudança de estilo de vida; mas, o antes e o agora das grandes celebridades da música, cinema, esportes etc.
Ao mesmo tempo, podemos aplicar também estes termos às mudanças mundiais provocadas por grandes tragédias humanas. Por exemplo, podemos refletir sobre o antes e o depois da peste negra, uma pandemia que surgiu na Idade Média, mais precisamente de 1346 a 1353. Essa praga foi causada pelo contato de humanos com pulgas que infestavam os roedores, mais especificamente o rato preto, muito comum nas comunidades daquela época. Estima-se que, no total, a peste negra pode ter reduzido a população mundial, que até então era de aproximadamente 450 milhões de pessoas, para 350 a 375 milhões.
Outra tragédia que também abalou as nações ao redor do mundo foi motivada por duas grandes guerras mundiais. A primeira, ocorrida nos anos de 1914 a 1918 e a segunda ocorrida de 1939 a 1945. É bem verdade que a primeira guerra ficou restrita mais aos países do continente europeu, já, a segunda, incluiu outros continentes como Ásia, Oceania, África e até a América. Foram milhões de pessoas mortas em razão destes dois conflitos, sem precedentes na história. Muitas considerações podem ser feitas entre o antes e o depois destas duas guerras.
Com o passar do tempo, outras tragédias assolaram o mundo. Não está muito distante de nossa memória a queda das torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, ocorrida em 11 de setembro de 2001, provocada por um atentado terrorista, coordenado pela organização fundamentalista islâmica al-Qaeda. Neste atentado, contabilizou-se as mortes de 2.753 pessoas. Os Estados Unidos e as demais nações viram ruir seus protocolos de segurança de espaço aéreo, ficando todas em suspense.
Temos também o antes e o depois do Tsunami, a onda gigante, que invadiu 14 países do Oceano Indico, incluindo a Indonésia, em 26 de dezembro de 2004 e que levou à morte cerca de 230 mil pessoas, de forma tão repentina e assustadora. Esse Tsunami, inclusive, passou a ser considerado um dos maiores desastres naturais da história humana.
Poderíamos discorrer sobre outras grandes tragédias do mundo e chegaríamos sempre à reflexão do antes e do depois de suas ocorrências.
No entanto, queremos dar um grande salto para o ano de 2020 que, certamente, também ficará marcado por um grande abalo mundial: o coronavírus. Um vírus silencioso que veio repentinamente e pegou a todos de surpresa. Ao que se sabe, teve sua origem em animais que, em contato com os seres humanos, disseminaram uma grave doença identificada como covide 19.
Desde o final de dezembro de 2019, o coronavírus invadiu nossas vidas, solapando agendas tão bem elaboradas, destruindo metas minuciosas, quebrando paradigmas, ao mesmo tempo em que mata lentamente.
Os sintomas da covide 19 assemelham-se, inicialmente, a uma simples gripe, mas que evolui rapidamente para um quadro gravíssimo de insuficiência respiratória.
A doença teve seu epicentro na cidade de Wuhan, na China, uma cidade de 10 milhões de habitantes, onde causou até agora mais de 3 mil mortes.
Num primeiro momento, pensou-se que seria possível conter o vírus por meio do isolamento dos infectados, mas, em pouco tempo, o que se viu foi a constatação do perigo real da disseminação do coronavirus de forma incontrolável.
Não demorou muito e ele chegou ao Brasil, depois de deixar muitos mortos em outros países como Itália, Espanha e Estados Unidos.
Hoje, a grande ameaça tornou-se realidade para o povo brasileiro. Por mais que queiramos minimizar os efeitos que esse vírus causa, não podemos fugir ao fato de que ele tem um enorme potencial de letalidade.
As autoridades se movimentam incansavelmente para montar uma operação de guerra contra um inimigo silencioso, que pode estar em qualquer lugar, ao simples toque das mãos. Isso mudou nossa rotina. Fomos obrigados a ficar em casa. Nossos hábitos sofreram alterações. Não podemos demonstrar aqueles gestos efusivos de afeto, tão característicos do povo brasileiro. Aliás, é necessário reinventar, palavra que tem sido repetida diariamente e que busca trazer alento àqueles que sonhavam com grandes lucros neste ano de 2020.
Diante deste cenário, somos convidados a refletir sobre o antes e o depois do coronavírus.
Uma coisa é certa: o mundo tem mudado. Talvez tudo isso seja o preparo para o que ainda virá. Pode ser que a prática da quarentena que envolva um país inteiro, não será mais novidade em algum lugar do futuro.
Algo que também era inimaginável até meses atrás, hoje, tornou-se uma triste realidade. Não podemos frequentar uma igreja. Elas estão fechadas. Nossos cultos foram abruptamente interrompidos.
Não sabemos o que ainda está por vir, mas temos que manter a nossa esperança.
Mas esperança em quê? Na famigerada Reforma da Previdência, que finalmente acabara de ser concluída? Na Reforma Política, que avança e retrocede, desgastada por tantos discursos vazios e interesseiros? No crescimento da economia, impulsionado por uma política liberal? Isso pode gerar esperança no povo que agora está confinado em suas casas?
Entendo que, hoje, outra pergunta que procura respostas nas ações dos governos estaduais é: Qual a melhor estratégia para evitar o caos?
Entretanto, em meio a todo o abatimento das grandes nações, sempre há, sim, esperança. Na verdade, a esperança sempre existiu, desde que tudo foi criado. Ela sempre esteve perto de nós. A esperança é Deus, que a tudo vê e que sabe o antes, o agora e o depois (Is 55.8-11). E, agora, quer mudar nossa forma de enxergar o mundo. Ele tem a história da humanidade em suas mãos. Ele revela o seu poder em deixar que tantas tragédias aconteçam nesta terra, com o fim de cumprir propósitos já determinados por ele mesmo.
Ao mesmo tempo, jamais deixa de revelar o seu grande amor, por colocar em nosso coração a paz que jamais encontraremos de forma completa neste mundo que beira ao desespero (Fp 4.7). É fato que constantemente teremos de enfrentar dissabores e perdas dolorosas, enquanto nossa história vai sendo construída.
Eis a necessidade urgente de crer que, agora, já podemos desfrutar da paz e da esperança que Deus nos oferece por meio de Jesus Cristo! Ele veio ao mundo, tornando-se um de nós para trazer salvação àqueles que se encontram perdidos e desesperançados (Fp 2.5-8).
Em meio a essa guerra silenciosa que se instaurou em nossa sociedade, Cristo pode trazer alento e conforto aos corações aflitos que, lamentavelmente, já perderam entes queridos por causa desta pandemia do coronavírus. Jesus é o único que tira o medo do futuro, daqueles que vão somar inevitavelmente muitas perdas com toda essa tragédia.
Forçosamente, seremos empurrados para a imperiosa reflexão do antes e do depois do coronavírus, mas uma coisa é certa: o nosso Deus nunca mudou (Ml 3.6; Tg 1.17). Ele permanece eternamente e cumpre sua palavra, conduzindo com fidelidade a história de redenção do homem. Esse plano de redenção nunca sofreu e jamais sofrerá alguma alteração. A promessa de um Salvador se cumpriu em Jesus que se entregou à morte para, em seguida, vencê-la, a fim de resgatar a muitos do poder das trevas do pecado (1Co 15.55-57). Jesus vive eternamente e sua volta se aproxima. Esta promessa deve alimentar a esperança de todos aqueles que creem em Jesus Cristo.
Neste sentido, nossas vidas podem ser caracterizadas pelo antes e pelo depois de Cristo. Mas com ele é diferente. Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre (Hb 13.8).
Nossa história ficará marcada pelo enfretamento desse terrível vírus, por meio das atitudes e dos novos hábitos que passaremos a desenvolver diariamente, colaborando para a contenção da doença. Ao mesmo tempo, podemos gozar de toda a segurança que encontramos em Deus, que nos sustenta em suas mãos acolhedoras, por meio de Jesus Cristo. Sua santa Palavra nos encoraja a permanecer firmes até que tudo isso passe para que, então, voltemos às nossas atividades normais, fortalecidos na esperança do depois, na glória eterna com o nosso amado Salvador (Sl 27.18).
Rev. Jair B. Quirino