Seria possível estabelecer, adequadamente, uma relação entre igreja visível/invisível e militante/triunfante?
Vários autores tratam desta distinção, ao mesmo tempo em que também destacam que essas peculiaridades não visam à divisão da Igreja em duas partes, mas que servem para descrever dois aspectos de uma mesma e única Igreja em diferentes momentos.
Por Igreja visível, queremos dizer, a igreja presente no mundo e que extrapola os limites regionais, compondo-se de todos aqueles que professam a fé em Jesus. Quando se considera a invisibilidade da Igreja, a referência é feita ao grupo daqueles que já foram recolhidos para estar com Deus.
A Confissão de Fé de Westminster, quando trata da Igreja, traduz claramente o pensamento dos reformadores:
A Igreja católica ou universal, que é invisível, consiste do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo, sob Cristo, seu Cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas. A Igreja visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita a uma nação, como antes sob a Lei) consiste de todos aqueles que, pelo mundo inteiro, professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o reino do Senhor Jesus, a casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade ordinária de salvação.[1]
O que deve ser posto em relevo é que o homem, por mais que se esforce, sempre terá uma visão limitada da Igreja. Ele jamais estará à altura da majestade de Deus. Precisamente por essa razão, Deus contempla sua Igreja na totalidade, ao passo que o homem a enxerga no seu aspecto físico ou regional, ou mesmo pelo número de membros que a compõe.
Entendendo que a igreja militante é composta daqueles que atuam presentemente no mundo, podemos estabelecer uma relação com a igreja visível. No entanto, é importante ressaltar que pertencer à igreja militante ou visível não significa afirmar que todos fazem parte da igreja triunfante ou invisível.
Por mais que isso pareça uma afirmação incoerente não se pode perder de vista que muitos que compõem a igreja e que até militam nela não são de fato salvos por meio do evangelho que dizem professar. Desponta mais uma vez aqui a maneira como o homem, em sua visão limitada, vê a igreja. A sua forma de ver a igreja está relacionada com aquilo que lhe é aparente; as ações desenvolvidas; o número de membros que são assíduos etc. No entanto, somente Deus conhece o coração de cada membro de uma igreja. Somente Ele tem o poder de contemplar sua igreja na totalidade e identificar com perfeição os verdadeiros crentes que compõem a igreja militante ou visível e que também fazem parte da igreja triunfante ou invisível.
Deus soberanamente escolheu os que serão reunidos na igreja triunfante. Isso diz respeito a todos os eleitos que já passaram por esse mundo; os que agora militam no evangelho e os que ainda serão alcançados pela graça salvadora. Esta é a igreja triunfante e invisível, que na visão do apóstolo João é uma “grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7.9). Vemos que mais uma vez destaca-se a visão limitada do homem em identificar os componentes da Igreja em sua totalidade.
Portanto, somente Deus é quem pode enumerar com exatidão os pertencentes à igreja triunfante, o que se comprova na carta aos hebreus: “Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.22,23).
Querido leitor, louve ao Senhor porque, soberanamente, nos reúne no grupo daqueles que fazem parte da igreja visível e invisível. Que a benção da salvação repouse em teu coração, e que te sirva de alento nos momentos de grandes desafios neste mundo. Mantenha firme a confiança de que um dia estaremos todos na presença de nosso querido salvador, Jesus Cristo. A Ele rendamos glória e honra para todo o sempre. Amém!
[1] Confissão de Fé de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2005, XXV – I, II.
Rev. Jair B. Quirino