A doutrina da perseverança dos verdadeiros crentes é o ensino confortante da Escritura. Aprendemos dela que Deus, pelo seu poder, guarda seu povo de afastar-se dele, que Cristo não permite que alguém seja arrebatado de sua mão, e que o Espírito Santo sela-nos para o dia da redenção. Nosso Pai celeste nos segura em sua mão; esse é o nosso maior conforto na vida e na morte. Descansamos, finalmente, não porque seguramos nele, mas porque ele segura em nossa mão.
Ainda assim, essa doutrina nos conclama a perseverar na fé – e esse é o nosso desafio. Só podemos perseverar pelo poder de Deus e pela sua graça. Mas ensinar essa doutrina de modo a apresentar apenas o seu conforto e não o desafio, só a segurança e não a exortação, é ensinar um só lado. E a Bíblia constantemente nos adverte do perigo desse desequilíbrio.
Lembramos que Paulo, a despeito das afirmações ressoantes da preservação divina dos crentes, diz sobre si mesmo em 1Coríntios 9.26,27, “Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado”. Somente à medida que se disciplinava, Paulo sentia-se justificado em reivindicar sua segurança em Cristo. Ele não tinha coragem de exigir essa bênção enquanto fosse descuidado e indolente na batalha diária contra o pecado. E nós também não […].
A doutrina da perseverança dos verdadeiros crentes, portanto, é tanto confortante quanto desafiante. Mas o desafio é baseado no conforto.
Anthony Hoekema